Futebol

Libertadores e a festa dos excluídos

Nos últimos 3 anos Fluminense, Botafogo e Flamengo levantaram a taça Libertadores, mas poucos torcedores viram esses títulos no estádio de futebol.

O Flamengo venceu o Palmeiras no último sábado de novembro e se tornou o primeiro clube brasileiro tetracampeão da CONMEBOL Libertadores. A partida aconteceu no estádio Monumental de U, em Lima, e no fim do jogo o Centro do Rio ficou lotado de torcedores. Muitos desses torcedores, provavelmente, não assistiram nenhuma partida do Flamengo no Maracanã, ou em outro estádio do torneio.

Libertadores e a festa dos excluídos

Torcida do Flamengo no Centro do Rio de Janeiro

Foram três títulos importantes para os times do Rio de Janeiro, em 2023, 2024 e 2025, e lógico que as torcidas foram para as ruas da cidade comemorar. Aliás, a maioria desses torcedores só consegue comemorar fora dos estádios, pois o ingresso de futebol está cada vez mais elitizado. As arquibancadas, antes dominadas pelo povo, agora recebem aqueles que têm dinheiro no bolso.

Afastar o povão dos estádios é uma exigência dos donos dos espetáculos, por isso os ingressos estão cada vez mais caros. Alguns times até sentem falta daquela torcida que empurra os jogadores até o último minuto da partida, algo que os torcedores das novas arenas não conseguem fazer. O torcedor atual paga um ingresso caro e quer ver um gol logo no início, quando isso não acontece, as vaias começam a ecoar nas confortáveis cadeiras.

Botafogo na Libertadores

Torcida do Botafogo comemorando a Libertadores

Essa elitização dos estádios, que hoje são arenas, afastou o torcedor raiz e no seu lugar estão os torcedores que gostam de gastar. Essa novas arenas são sofisticadas, menos o Mané Garrincha, e afastam o torcedor que sempre fez a festa do futebol. O que importa agora é faturar antes, durante e depois do jogo.

De acordo com pesquisa recente, o custo total para um torcedor comum ir a um estádio subiu 361% em apenas 10 anos. A mesma pesquisa revela que a inflação, nesse mesmo período, foi de cerca de 85%. Ou seja, o futebol passou a ser um produto e não é mais um esporte popular. Por isso a maioria dos torcedores, aqueles que frequentavam as arquibancadas, acaba fazendo a festa nas ruas.

Vimos isso nos últimos 3 anos, com os títulos de Fluminense, Botafogo e Flamengo. Os torcedores acompanham a partida em casa ou em bares e depois vão para as ruas comemorar. Até mesmo quando a final foi no Maracanã, que também teve ingressos caríssimos e afastou aquele torcedor tradicional.

Libertadores e a festa dos excluídos

Torcida do Fluminense em 2023

Quem popularizou o futebol, hoje está fora dos estádios

A privatização dos grandes estádios brasileiros criou uma exploração econômica e isso impediu o acesso da maioria da população. Se o ingresso está caro, a arquibancada está vazia. Até os times de grandes torcidas já observam uma queda no número de torcedores.

Ano que vem temos Copa do Mundo e essa apoteose do futebol está cada vez mais seletiva. Na Copa de 2026, a média no preço dos ingressos será entre R$ 3 mil e R$ 11,9 mil. O torcedor do Campeonato Brasileiro e Libertadores pode até achar que esse é o preço correto, para um mundial com a nata do futebol. Mas esse torcedor não está percebendo que o seu time também vai aumentar o preço do ingresso por aqui. Principalmente os times que estão investindo em jogadores caros. O dirigente apresenta esse jogador na coletiva, fala que o ingresso vai subir e o torcedor, ludibriado por esse momento, acaba esquecendo que ele vai pagar parte dessa conta.

Futebol é uma paixão nacional, mas está cada vez mais caro gritar gol nas gananciosas arenas.

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