Sou do tempo que o futebol aparecia na telona e ninguém jamais filmou as quatro linhas, como a equipe do famoso Canal 100.
Durante a década de 80 a arquibancada do Maracanã ia para os cinemas do Rio, pois antes do filme tínhamos os trailers e também as fantásticas imagens do Canal 100. Quando a música “Que bonito é..” tocava, já sabíamos que as imagens do Canal 100 invadiriam a tela do cinema. Como morava no Rio nessa época, quase sempre o Canal 100 mostrava um clássico Carioca. Ou seja, nessa hora a galera transformava o cinema em arquibancada.
Como disse acima, ninguém jamais filmou o futebol como o Canal 100, pois sua equipe conseguia mostrar toda a emoção do campo e, lógico, da arquibancada. Para ser mais exato, o Canal 100 gostava mesmo era de filmar a saudosa geral e os seus personagens pitorescos. Só aparecia figura, aliás algo que falta ao futebol de hoje, depois que o ingresso caro afastou o povão dessa paixão nacional.
O Canal 100 foi criado em 1958
Em 1958, o cineasta Carlos Niemeyer cria o cinejornal esportivo, que leva o nome de Canal 100. Carlos era primo do arquiteto Oscar Niemeyer e resolveu criar uma nova maneira de filmar o futebol. Para inovar, o cineasta utilizava vários closes e procurava enfatizar a emoção dos jogadores e da torcida. Aliás, o Canal 100 é do tempo em que o futebol não tinha a devida importância na TV e também não chegava em todo o País. Portanto, o Canal 100 era o principal noticiário esportivo e um complemento obrigatório na programação dos cinemas.
Garrincha e o seu futebol apareceram no Canal 100
O Canal 100 tinha uma duração que variava de 5′ a 10′ e seus closes e cenas em câmera lenta mostravam os melhores momentos dos grandes clássicos do futebol. Mas, o grande diferencial dessas imagens, que é uma escola para as transmissões esportivas atuais, era misturar as ações do campo com as reações dos torcedores. Algo que inova a narrativa esportiva e cria filmes inesquecíveis, pois nunca mais vi uma filmagem assim.
Cid Moreira era o locutor oficial do Canal 100 e sua voz marcante narrava as imagens que víamos na tela do cinema. Infelizmente, uma grande enchente atingiu a Vila Leopoldina, que fica em São Paulo, local onde estava armazenado parte do acervo da Cinemateca Brasileira. Por causa disso, 9.000 rolos de filmes foram destruídos para sempre. Para piorar, a Cinemateca Brasileira foi fechada em março do ano passado, por ordem do governo anterior, dificultando ainda mais esse trabalho de recuperação.
Pelé em jogo pela Seleção Brasileira
Torço muito para que consigam digitalizar esse acervo histórico do Canal 100, pois as novas gerações precisam ver como era o nosso futebol. Algo que apenas essas cenas poéticas do Canal 100 podem transmitir, garantindo a perpetuação de lances inesquecíveis desse esporte que é uma paixão nacional.
Veja abaixo um vídeo do Canal 100
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